1 de março de 2018

DISCOS DE VINIL # 49


ANGELA RÔ RÔ – COMPASSO (2006)


Estou bem melhor como cantora sem a nicotina e o alcatrão. Tenho mais fôlego, mais lucidez e melhorou meu sistema nervoso. Desafino menos.
(Angela Rô Rô)

         Angela Rô Rô é uma das cantoras mais talentosas da música brasileira: em uma carreira que se expande por quatro décadas, lançou 14 álbuns até o final de 2017 – 11 de estúdio e 3 ao vivo. Suas canções falam das mais variadas formas de amor – declarações de liberdade, protestos contra a depredação da natureza e as famosas odes amorosas em forma de canção são os temas mais recorrentes de sua obra musical.
         Compasso é o único álbum de inéditas lançado por Angela Rô Rô na década de 2000. Bastante elogiado pela crítica e aclamado pelo público, é um trabalho de parcerias interessantes: além do seu escudeiro de décadas, o tecladista Ricardo MacCord, há dobradinhas com a poeta e letrista Ana Terra (co-autora de “Amor Meu Grande Amor”) e com o pianista e produtor Antonio Adolfo, com quem a artista trabalhou em seus primeiros anos de carreira. O ouvinte é brindado com uma diversidade musical bastante interessante: Rock, Jazz, Forró, Blues, Bossa Nova e baladas românticas bem ao gosto das rádios de MPB.
         A faixa-título é uma declaração de amor à nova vida que surgia, um manifesto da nova Angela Rô Rô que surgia para os olhos e ouvidos do seu público: sóbria, sorridente e bastante esbelta (não menos louca, diga-se de passagem!) – uma imagem bastante distinta da gordinha sexy que vivia em plena esbórnia e cantava a fossa e a boemia como pouquíssimos. O uísque dos tempos de outrora fora substituído pela água mineral. A irreverência, como consequência, passou a ser abastecida por um bom humor menos agressivo:


É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado

Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz!

Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora

Amo a vida a cada segundo
Pois para viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito, é meu direito!
        
“Contagem regressiva”, um rock assinado pela cantora e Ricardo MacCord, se assemelha por demais com as gravações clássicas de Angela Rô Rô do início dos anos 1980 e uma das melhores faixas de Compasso, pois atesta o seu talento de intérprete:


Se alguma coisa perturba você
Larga a aflição e vem me ver
Se a solidão caça você
Larga essa dor, eu vou te ver!

Pode contar comigo contagem regressiva
Que eu ponho fim a essa tristeza compulsiva
Também, pra quê que serve amigo?
Chamego e conforto, teu barco à deriva
Posso ser teu porto! Meu bem!

Se o amor assusta você
Conta comigo, vem me ver
Se o amor feriu você
Sou teu amigo, vou te ver

Pode contar comigo contagem regressiva
Que eu ponho fim a essa tristeza compulsiva
Também, pra quê que serve amigo?
Chamego e conforto, teu barco à deriva
Posso ser teu porto! Meu bem!

         Dentre as faixas românticas de Compasso, destaca-se “Paixão”, parceria bissexta de Angela Rô Rô com a poeta Ana Terra, mais de duas décadas depois de “Amor, Meu Grande Amor”. Com Ricardo MacCord, compôs as apaixonadas “Sem Adeus” e “Loucura Maior”. No entanto, a faixa mais apaixonada deste CD é “Chance de Amar”, sétima faixa do disco, uma dobradinha de Rô Rô com o pianista, compositor e produtor musical Antônio Adolfo:  


Não é por sentir que te quero
Nem por saber esperar
Por todas as vezes que antes... foi vacilar
Sem medo de perdas ou ganhos
Sem pensar se amar
Ao longo de todos os anos... valeu tentar

Apenas a música lenta... tocando dentro de mim
Lembrando que um sonho de alento... não tem fim

Não é por pensar em você... como quem quer estudar
Todas as aulas da vida... sem faltar.
Sem culpa da curiosidade... pois tão pouco te vi
Ao longo de toda a cidade... ando a sorrir

Apenas a música lenta... tocando dentro de mim
Lembrando que todo o tormento... tem um fim

É por ser tanto que quero... que vou saber esperar
Por qualquer tipo de afeto... que brotar
Sem medo de perdas ou ganhos, sem pensar se amar
Ao longo de todos os anos... valeu tentar

Apenas a música lenta... tocando dentro de nós.
Lembrando num gesto amigo... não somos sós.

Teu caminho a liberdade... pro meu caminho cruzar.
Aprendi a dar valor... a qualquer chance de amar
A menor chance de amar.
A qualquer chance de amar.

No quesito diversidade musical, os fãs de Angela Rô Rô foram brindados com “Dá Pé!”, um reggae filosófico e bem debochado, bem ao estilo irreverente da artista. “Menti pra Você”, uma Bossa marcada pelos arranjos de MacCord, vai na contramão dos clássicos do gênero ao falar de amores fugazes, porém intensos. “Arranca Essa Flor” é um bolero delicado e inspirado no repertório musical de Omara Portuondo, uma das mais belas vozes cubanas. Por fim, “Não Adianta” é um forró, um lamento apaixonado que trata de dor e desilusão e comprova o quando Rô Rô é um intérprete versátil e inteligente, ao transitar com naturalidade por universos musicais distintos:


Tenho um coração apaixonado
Não adianta nem tentar curar
Não vejo mais o verde das pastagens
Nem ouço a brisa da alegria me chamar

Pois só escuto a dor a me dizer
Que eu não posso mais querer você
Pois só escuto a dor a me dizer
Que eu não posso mais querer você

Tenho um coração tão machucado
Não adianta nem amaciar!
Não ouço o riacho versejando
E os passarinhos cedo a cantar...

Pois só escuto a dor a me dizer
Que eu não posso mais querer você
Pois só escuto a dor a me dizer
Que eu não posso mais querer você

O sol se põe tardinha quase noite
E a sua ausência vira um açoite
Depois de um dia inteiro trabalhando
Não durmo com a saudade me açoitando

E o meu sonho sem sono vem a me dizer
Que eu não posso mais querer você
E o meu sonho sem sono vem a me dizer
Que eu não posso mais amar você

O sol se põe tardinha quase noite
E a sua ausência vira um açoite
Depois de um dia inteiro trabalhando
Não durmo com a saudade me açoitando

E o meu sonho sem sono vem a me dizer
Que eu não posso mais querer você
E o meu sonho sem sono vem a me dizer
Que eu não posso mais amar você

Talvez toda essa gente sinta o mesmo
E a essa hora corra para o bar
Só sei que o sentimento por você
Me fez até não querer mais me embriagar

Pois só escuto a dor a me dizer
Que eu não posso mais querer você
Pois só escuto a dor a me dizer
Que eu não posso mais amar você

Angela Rô Rô guardou para o final de Compasso as três faixas mais intensas do disco. “Bater Não Doi” e “Nossos Enganos” são duas canções de protesto bastante fortes, com mensagem direta: as consequências dos atos mais irresponsáveis dos seres humanos, a falta de perspectivas de um mundo a mercê dos desmandos dos homens, a vilania e a ambição do homo sapiens:


São nossos os nossos enganos
Os danos que danam em nós
Os erros que erramos unidos
Pagamos com a vida a sós

A vida com as horas contadas
O encontro marcado às escuras
Caminho de pedras marcadas
E um chão de penas duras

A raça humana ingrata
Só fez ferir a terra
De um jeito que não haja mais amanhã

Cruel geral tormenta
Doença, fome e guerra
Tão triste reconhecer que sou vilã

         O álbum se encerra com “Dorme, Sonha...”, um acalanto apaixonado e que foi número de abertura das primeiras apresentações da turnê deste álbum em São Paulo. Uma Angela Rô Rô lírica, intensa e apaixonada surge para o ouvinte, convidando sua musa amada para o sono redentor dos amantes apaixonados e sedentos por amor:


Dorme, dorme, dorme e sonha
Deixa o seu perfume em minha fronha
Acorda, acordo, a corda está sem nós
A corda deu um laço não estamos sós

Dorme e sonha espanta o medo
Meu amor é só o seu brinquedo
Acorda, acordo o seu adeus certeiro
leva o sonho do meu travesseiro
Em breve sei que vou sentir seu cheiro

         Compasso é um dos cinco trabalhos mais importantes da discografia de Angela Rô Rô, visto que apresentou a artista a uma nova geração de ouvintes de MPB e satisfez fãs saudosos de novos sucessos, do lirismo e da fina ironia de uma das cantoras mais talentosas de nossa música. Apesar de sóbria e limpa de quaisquer tipos de narcóticos, a loucura de Rô Rô se manteve intacta com o passar do tempo: continua intensa, hilária e apaixonada, por isso, é uma artista fundamental.



25 de fevereiro de 2018

TROVA # 147


MESTRE PAULINHO
(DUAS OU TRÊS COISINHAS SOBRE PAULINHO DA VIOLA)



Meu bem, perdoa
Perdoa meu coração pecador
Você sabe que jamais eu viverei
Sem o seu amor
(Paulinho da Viola, 1976)



Aproveitei a época do Carnaval e resolvi continuar ouvindo uma de minhas maiores inspirações musicais, Paulinho da Viola. Um dos maiores estandartes musicais da Portela, Paulinho é autor de letras inesquecíveis e de melodias belíssimas que resultam em sambas inesquecíveis e possui mais de cinquenta anos de indefectível carreira musical.


Paulo César Baptista de Faria pertence a uma família de enorme tradição no samba: filho do violonista César Faria, integrante do lendário grupo de choro Época de Ouro, Paulinho cresceu ouvindo mestres como Pixinguinha e Jacob do Bandolim tocando na sala de sua casa. Apesar do pai ter lhe dado seu primeiro violão, Sr. César não queria que o filho se tornasse músico. No entanto, o jovem Paulinho começou a se interessar por carnaval e organizou um bloco carnavalesco na zona norte do Rio de Janeiro.


Aos 19 anos, o jovem Paulo César era um contador e estudava economia. Foi nesta época que ele teve contato direto com Hermínio Bello de Carvalho, que lhe aconselhou a carreira de músico. Ao ouvir pela primeira vez as gravações de Cartola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, Carlos Cachaça e outros, o samba lhe fisgou em cheio. Começou a compor sambas em parceria com Hermínio e deu início a uma brilhante trajetória musical.


Meu primeiro contato com Paulinho da Viola se deu graças ao meu avô, Sr. Adhemar, que tinha comprado um dos álbuns mais importantes da obra do mestre, Bebadosamba (1996). Logo depois, o videoclipe de “Ame” era transmitido volta e meia pela MTV Brasil. Por fim, meu pai comprou uma coletânea de mestre portelense e aquele rio de versos e trovas nunca mais saiu dos meus ouvidos.


Minhas memórias com a obra musical de Paulinho da Viola sempre passam pela afetividade e com memórias de pura nostalgia: lembro, por exemplo, que meu avô não gostou muito de Bebadosamba porque achou o disco lento demais – hoje, ao ouvir este álbum, tenho o direito de discordar de meu avô e acho um dos trabalhos de samba mais belos que jamais se produziu nos últimos tempos. Lembro de um aniversário meu em que cantei “Foi um rio que passou em minha vida” no meio de uma roda de samba inesquecível. É graças a Mestre Paulinho e à Clara Nunes que desenvolvi meu amor e minha admiração pela Portela, apesar de ter ido pouquíssimas vezes a Madureira em mais de 37 anos de existência.


No entanto, nem todas as minhas lembranças com o filho do Sr. César são agradáveis. Não por uma questão de desgraça, mas por uma questão de um tédio mortal. Em abril de 2011, conseguimos ingressos para assistir a um show de Paulinho da Viola no SESC Pompeia. Não podia me conter de excitação em poder cantar clássicos como “Argumento”, “Timoneiro”, “Perdoa”, “Na Casa do Vavá” e tantos outros. Quando o show começou, Paulinho comunicou ao público que aquela apresentação seria única e somente de lados B de sua obra. Logo de cara, a decepção tomou conta daquelas cadeiras do SESC. Depois, tentei aceitar o argumento do artista, mesmo sentindo a falta de sons familiares de cavacos, de pandeiros e tamborins acompanhados de versos que eu pudesse cantar junto. Todavia, quem era eu para alterar a ordem dos sambas de uma lenda de nossa música?


Saí daquele show depois de ter dormido em alguns trechos, triste por não poder cantar várias daquelas canções que eu tanto esperava ouvir. Fiquei de mal com Paulinho da Viola por um tempo, mas retomei a ouvi-lo com a mesma devoção. Afinal, não poderia ter um coração leviano e ignorar um dos maiores artistas do planeta. Mas, infelizmente, aquela má impressão permaneceu guardada lá no fundo das gavetas da memória.


Ainda tenho a esperança de que vou fazer as pazes em definitivo com Paulinho da Viola e ir em um de seus shows e poder cantar a fina flor de seu cancioneiro sem jogar um sorriso de ironia sequer. Afinal, a poesia de Paulinho jamais sumirá pela poeira das ruas...




Marisa Monte e Paulinho da Viola

12 de fevereiro de 2018

TROVA # 146

DIAS DE FOLIA

Av. Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro

“Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.

Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!”
(Chico Buarque de Hollanda)



         Este é meu trigésimo sétimo Carnaval. Não me lembro de todos, e ainda tenho a memória de alguns inesquecíveis. Já me rendi aos encantos da folia, porém hoje em dia aproveito os dias de festejos não apenas para descansar um pouco da loucura recém-iniciada do ano letivo, como também para ler um pouco, acompanhar os festejos pela TV, ver alguns desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e até tento sair em um ou outro bloco carnavalesco, para não dizer que determinadas emoções eu vivi.

Acadêmicos do Baixo Augusta na Rua da Consolação, com a Pça Roosevelt à esquerda

         No passado, eu adorava desfrutar dos prazeres da carne durante os dias em que o Rei Momo governava as cidades e nos garantia quatro dias de folia, irreverência e batucada. Porém, os 30 foram chegando, me mudei para São Paulo (que só foi resgatar os carnavais de antigamente de alguns anos para cá) e o meu coração passou a pertencer a alguém. Além disso, minha resistência para aglomerações foi diminuindo e a minha paciência para programas coletivos ficou bem limitada. Folia imperdível é a que fica entre o sofá, a cama e o sol da piscina com algumas saídas com hora marcada para voltar.

As multidões na folia do Rio de Janeiro

         Além do empurra-empurra e do pessoal que bebe demais e resolve satisfazer suas vontades fisiológicas no meio da rua (não existe coisa mais desagradável do que cheiro de urina), o calor do verão me deixa profundamente angustiado. Outro motivo que me mantém em casa é a violência que não dá trégua durante o Carnaval: tenho pavor de assaltos e as cenas de criminalidade na TV me deixaram ainda mais sem vontade de sair às ruas. Não há irreverência ou marchinha de carnavalesca que resista à falta de policiamento nas ruas das grandes cidades brasileiras. Por outro lado, a vontade de protestar contra os governantes e as injustiças e me divertir cantando e espantando os males diários ainda me dá vontade de sair de casa e ainda acreditar que posso me sentir melhor...

A lendária Banda de Ipanema

         Diante de uma série de retrocessos e de direitos que os brasileiros têm perdido nos últimos dois anos, o Carnaval se tornou em um verdadeiro palco de protesto e resistência do povão e dos defensores da diversidade contra uma elite que sempre teve amor pelo luxo e horror a pobre. Enquanto os detentores de um bom capital conseguem investir em fantasias de alas de escolas de samba, carnavalescos elaboram protestos inteligentes contra o autoritarismo e a boçalidade que têm dado o tom de tempos mais recentes. O que seríamos de nós sem a genialidade de Joãosinho Trinta? E como seria a nossa irreverência se não existissem as marchinhas carnavalescas com suas letras irreverentes de duplo sentido?   

A alegoria de Joãosinho Trinta proibida de desfilar graças à Igreja Católica


            Por outro lado, é importante deixarmos claro uma questão fundamental: o Carnaval é a celebração da diversidade. Por isso, é um momento para que todos possam se expressar da maneira que achar melhor: os foliões podem ir para a rua, os roqueiros podem curtir seu som preferido nas alturas, os nerds podem ficar em casa em maratonas intensas de Netflix, os mais religiosos podem praticar a sua fé em retiros espirituais orando por suas almas e antissociais como eu podem ficar entre a rua e o conforto sagrado do lar. Se a individualidade de cada um fosse respeitada, a liberdade não seria uma constante apenas durante quatro dias de fevereiro ou março.



7 de fevereiro de 2018

TROVA # 145

BREVE MANUAL DE ETIQUETA PARA PLATEIAS DE SHOWS


         Um dia eu ainda irei escrever um livro para satisfazer as demandas do mercado. Quem sabe um desses manuais de moda e etiqueta ao estilo da Glória Kalil só que aplicado aos eventos musicais, porém com muita ironia e o deboche que me cabem neste latifúndio cibernético.
         Os principais eventos de um artista que se aventura pelo universo da música são os shows. Neste momento, o público possui a tão esperada oportunidade de ver a banda, o cantor ou a cantora de que tanto gosta no exercício de sua arte em carne e osso. Se existe a chance de ouro de ir até o camarim e estar com o seu ídolo face-to-face, você ainda pode trocar algumas palavrinhas com ele, tirar uma foto e pegar um autógrafo.
         Com o advento dos smart phones e das redes sociais, uma parcela do público de shows literalmente perdeu algumas noções básicas de bons modos e civilidade enquanto o artista faz o seu trabalho perante a plateia. Por isso, aproveito esta chance para fazer um TOP 10 dos comportamentos mais desagradáveis em shows:

    1) CHECAR REDES SOCIAIS DURANTE A APRESENTAÇÃO – É simplesmente inacreditável que os detentores de ingressos dediquem o seu tempo e dinheiro enquanto plateia para checar os chats do WhatsApp, os likes e DMs do Instagram, as transmissões ao vivo do Snapchat, Instastories e do Facebook. Além do fato de que o olho humano se desloca para lente da câmera e/ou para o visor do celular e de que a luminosidade e os ruídos dos telefones incomodam a concentração dos demais.

        2) TIRAR FOTOS E FILMAR O SHOW INTEIRO COM CÂMERAS, TABLETS E CELULARES – Não há coisa mais tosca, cafona do que posar para uma lente fotográfica com a cara mais feliz do planeta enquanto um músico se apresenta para uma plateia. Selfies em shows são o que há de mais brega em matéria de comportamento humano: dois ou mais animadinhos sempre incomodam aqueles que estão dispostos a desfrutar de uma boa música ao vivo.
Lembro, certa vez, de um surto que tive com uma louca que queria porque queria que eu interrompesse todas as atividades para tirar uma foto comigo e com meus amigos durante um show de Zélia Duncan. Em outra ocasião, tive que disputar terreno em uma plateia do SESC Itaquera para não derrubar um tripé de filmadora que estava estrategicamente posicionada para a filmagem de um show inteiro: não era a TV SESC, era um fã obcecado que achou mais importante ter que filmar tudo...
Deixar os outros em posição desconfortável por causa de um capricho tão egoísta – tirar fotos e filmar – é de uma insensibilidade sem tamanho. Restringir a liberdade alheia por um desejo seu é o cúmulo do ridículo...

3) CONVERSAR COM QUEM ESTÁ AO LADO DURANTE O SHOW – Certas pessoas se comportam em locais de show como se estivessem em estádios de futebol. Apenas se esquecem de que os músicos estão longe de serem craques da bola e de que cada número do setlist não é um lance futebolístico digno de análise ou comentário. Por isso, para que raios agem como se fossem o Neto ou o Galvão Bueno?!
Não me esqueço de um show de Angela Rô Rô no Teatro FECAP no qual um casal sentado atrás de mim comentava as piadas e canções daquele dia como se estivéssemos em uma final de Copa do Mundo. Por isso, amiguinho: não comente nada durante o espetáculo, sinta a música. Deixe para fazer isso durante a pizza após o evento...

4) RECLAMAR EM VOZ ALTA PORQUE NÃO OCARAM A SUA CANÇÃO PREFERIDA DURANTE O SHOW – Há comentários que são infinitamente desagradáveis. Principalmente quando são feitos durante uma apresentação que está agradando a maioria do público. Não estrague a alegria dos outros e não atrapalhe o trabalho de quem está no palco: Robert Plant não vai tocar “Stairway to Heaven”, Marisa Monte não é obrigada a tocar “Bem Que Se Quis”, Ney Matogrosso não canta “Telma Eu Não Sou Gay” nem por um decreto! O artista não tem a obrigação de tocar o que o público exige e nós, pagantes, não somos obrigados a encarar as lamentações dos outros.

5) GRITAR PEDIDOS DURANTE O SHOW – Teatros e casas de shows não são bares ou restaurantes com música ao vivo, onde basta enviar um bilhetinho pedindo “Flor de Lis”, “Oceano”, “Sozinho” e outros clássicos das FMs. E não existe nada mais deprimente do que ouvir um “TOCA RAUL!” em meio a uma apresentação. Deixem o espírito do Mestre Raul Seixas em paz...

6) BEBER MUITO DURANTE O SHOW – Se bêbados já são pessoas desagradáveis em bares, imaginem em eventos musicais com open bar? São representantes do que há de mais inconveniente no pedaço: ter que se deparar com poças de vômito, com o péssimo comportamento provocado pelo álcool e outras situações horrorosas é o cúmulo da falta de elegância! Além da alta possibilidade de barracos, provocações e brigas...

7) JOGAR O CORPO PARA FRENTE DO PALCO DURANTE O SHOW – O direito mínimo das pessoas que enfrentam horas e horas de fila para conseguir um lugar privilegiado na frente do palco, é ter o seu espaço garantido durante o evento. Por isso, é muita falta de educação e de ética chegar poucos minutos antes do show e ficar empurrando os demais para conseguir um lugarzinho bacaninha para ver a estrela da noite. Se queres conforto, chegue mais cedo!

8) LEVANTAR DO ASSENTO DURANTE O SHOW – Em certas ocasiões, precisamos fazer uma passagem pelo banheiro durante uma apresentação musical. Quando isso acontece comigo, me levanto de onde eu estou repleto de vergonha e vou discretamente ao destino tão desejado. Venhamos e convenhamos, há pessoas que extrapolam os limites do bom senso. Exemplo: estava eu em um show de Gal Costa numa renomada casa de show de São Paulo quando notei o burburinho de duas mesas de lados opostos da Pista VIP, onde eu, por acaso, estava. Uma moça da mesa do lado esquerdo se locomovia freneticamente para o lado direito (e vice-versa) enquanto Gal cantava o repertório de Recanto para ficar conversando com os amiguinhos durante o show. Nenhum problema em relação à hiperatividade da criatura se não fosse o fato de que ela estava EM PÉ ao lado direito da casa bem na frente deste que vos escreve para fofocar. Meu surto foi inevitável: expulsei a cidadã do meu campo de vista com meia dúzia de patadas e grosserias e voltei ao show de Gal com uma raiva imensa do tempo perdido. É muita petulância alheia com alguém que pagou ingresso caro para assistir uma das artistas que você mais gosta.

9) GRITAR DECLARAÇÕES DE AMOR PARA QUEM ESTÁ NO PALCO DURANTE O SHOW – Deixemos algo bem claro: você pode gritar e berrar o quando você quiser para o artista que ele é amado, desejado ou que ele é “lindo, tesão, bonito e gostosão” ou até que deseja fazer coisas impublicáveis com ele ou ela. (In)felizmente, quem está no palco geralmente não poderá ouvir os anseios da plateia. Shows de Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Ana Carolina reúnem uma quantidade sem fim de frases que eu tenho vergonha que reproduzir aqui. Show de Chico Buarque então é um festival eterno de correio para o monstro de olhos azuis que me faz entender o fato dele raramente sair em turnê. No entanto, tem uma passagem hilária ocorrida comigo: em uma área VIP de um show de Paul McCartney em São Paulo, um rapaz de 20 e poucos anos não cansava de gritar “I love you, Paul!” para o ex-Beatle, inerte aos desejos histéricos individuais de 2 ou 3 e empenhado com um show de quase 180 minutos pela frente. Já uma amiga minha me contou que quase espancou uma quarentona louca que berrava na pista (500m de distância do palco!) de um show dos Rolling Stones de que Mick Jagger TINHA que fazer um filho com ela a todo custo.

10) ARRANJAR CONFUSÃO NO CAMARIM APÓS O SHOW – Se existe a oportunidade de outro de ir até o camarim e estar, por breves instantes, com o seu ídolo face to face após um show, já é um motivo e tanto para se sentir nas nuvens: trocar algumas palavrinhas, tirar uma foto e ainda pegar um autógrafo são ingredientes perfeitos para a plenitude da sua felicidade musical. Entretanto, há pessoas que desconhecem noções básicas de respeito e civilidade em situações assim. A admiração se transforma em histeria. As vozes histéricas se convertem em um desrespeito pessoal à figura do artista: ninguém é obrigado a tirar um milhão de selfies ou a autografar uma série sem fim de capas de disco ou de quinquilharias e ainda ter que sorrir freneticamente depois de horas extenuantes de ensaios, passagens de som e dos shows em si. O camarim não é a Ilha de Caras! Além disso, sempre há aqueles fãs que se acham mais dignos do que outros e adoram menosprezar os demais fãs e sugam o artista como um vampiro sedento por sua presa inocente. Diante do caos típico de toda porta de camarim, lembro-me sempre de uma frase muito sábia dita por minha fada madrinha: “O ingresso te dá direito ao show e não a uma ida ao camarim!”.  Quando não estamos no meio daquelas rodadas bregas de meet and greet, vale levar em conta que o artista não é propriedade particular do fã. Por isso e por muito mais, respeito e privacidade sempre fazem bem em uma hora dessas.  
Eis 10 dicas de etiqueta para que você possa se comportar adequadamente em eventos musicais. Se você seguir estas recomendações à risca, cada show será uma oportunidade e tanto de ser um acontecimento inesquecível. Nem a Glorinha Kalil ou essas blogueirinhas de plantão teriam te dado dicas tão bacanas como essas...