27 de agosto de 2017

TROVA # 134

OS RATOS DA CAPITAL FEDERAL



Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do ‘Grand Monde’

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
(Cazuza, 1988)


Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão
(Chico Buarque & Edu Lobo, 2001)


         Se Cazuza estivesse vivo em 2017, ele estaria em estado de choque tão grande, mas tão grande com as notícias de política, que ele teria vergonha de ter escrito canções tão emblemáticas como “Ideologia”, “Brasil”, “Burguesia” ou “O Tempo Não Para”. Pelo simples fato de que, três décadas após o fim da Ditadura Militar, pouco se aprendeu a respeito desta elite que nos governa.


         A eleição de petistas para o Governo Federal – apesar do fato do PT sempre ter dado as mãos para o “centrão” e o empresariado – jamais esteve nos planos das oligarquias que sugam as riquezas e as forças de trabalho deste país. A realização de políticas públicas voltadas para o social sempre foi motivo de ojeriza imensa por parte das famílias bem-nascidas e alimentadas do bom e do melhor, afinal, o desmantelamento de serviços como a educação pública, lembrando o sábio e saudoso Darcy Ribeiro, sempre foi um antigo projeto.
         Nos últimos meses, a Câmara dos Deputados se tornou em um verdadeiro balcão de negócios de um Presidente golpista, desesperado em manter o seu cargo para poder desfrutar dos benefícios da cadeira que tomou na base do tapetão. 200 milhões de brasileiros assistiram bilhões de reais serem liberados através de emendas parlamentares para que Michel Temer não fosse julgado pelo STF por crime de corrupção passiva. Enquanto 300 e poucos deputados comemoravam as maracutaias praticadas por eles em plena luz do dia, os servidores do Rio de Janeiro padeciam por falta de salário...


     Não nos enganemos: o Governo Temer é um vassalo do empresariado, do GAFE e do capital estrangeiro. A aprovação da reforma trabalhista é um dos maiores presentes que a elite tanto ansiava, afinal, as dívidas dos cachorros grandes com a Justiça Trabalhista (para citar apenas um exemplo) eram estratosféricas. Além disto, as altas cúpulas do Judiciário brasileiro (sem citar nomes, para não dar processo) sempre estão prontas para livrar os “compadres” ricaços da cadeia através de uma simples canetada. Justiça é luxo de quem está de posse do vil metal e não é pobre...
          O mantra dos golpistas neste momento não é “reformar” o Estado Brasileiro. Consiste em colocar o Brasil a venda mesmo. Sem pensar duas vezes, sem regatear, sem sequer consultar a sociedade. Em 23 de agosto de 2017 tornaram público de que cerca de 57 privatizações seriam realizadas para poder diminuir o déficit nas contas públicas. Se a venda de serviços públicos para a iniciativa privada fosse garantia de qualidade, teríamos excelentes serviços de telefonia e desastres ecológicos como o ocorrido em Mariana jamais teria acontecido.


          No entanto, o que mais me causou espécie foi a desapropriação da Reserva Nacional do Cobre, uma área na região da Amazônia correspondente ao território da Dinamarca, para exploração mineral. Se o Governo Temer deseja uma nova corrida ao ouro como nos velhos tempos de Serra Pelada, conseguiu. O único problema é que a área está repleta de vegetação nativa e de indígenas. Um mero detalhe a ser resolvido pela turminha do agronegócio.



     Diante dos acontecimentos mais recentes, pouco mudou nos últimos 30 anos: Brasília está cheia de ratos. Se ratoeiras ou venenos para roedores fossem dispostas pelo Congresso, pelo Senado ou pela Esplanada dos Ministérios ou no Palácio do Jaburu, não teríamos nenhum para contar história. Enquanto isso, a bandeira do Brasil é roída como se fosse a roupa do Rei de Roma...