4 de dezembro de 2016

TROVA # 101

MEMÓRIAS DE UMA ROQUEIRA MALCOMPORTADA


"A sorte de ter sido quem sou, de estar onde estou, não é nada comparada ao meu maior gol: sim, acho que fiz um monte de gente feliz." 
(Rita Lee – Rita Lee: Uma Autobiografia, p. 269)


Rita Lee lançou suas memórias em livro. Um livro para lá de esperado, interessantíssimo, encantador, honesto, sincero, brutal. Uma narrativa tão envolvente, que eu li em menos de sete noites (por motivos de força maior, eu só podia ler as memórias de Rita durante a parte da noite, antes de dormir). 


Se eu fosse a Rainha do Rock Brasileiro, eu teria dado outro título ao invés de "Uma Autobiografia": daria o título de "Memórias de uma Roqueira Malcomportada" por causa do conjunto da obra mais sincera que a filha de Dr. Charles e D. Chesa nos legou. Rita não se compromete em dar detalhes complexos de sua relação com Os Mutantes ou com os Tropicalistas, tampouco dá explicações detalhadas sobre sua relação de vida e trabalho de décadas ao lado do parceiro / marido Roberto de Carvalho. Datas não são o forte de Madame Lee, o que compreensível para alguém que foi por anos e anos a livre-docente em porra-louquice (só perdendo para Ozzy Osborne ou Keith Richards no quesito "drogas").



Já distante dos palcos e dos holofotes há alguns anos, Rita Lee decidiu fugir dos clichês que rondam o universo do showbiz e reuniu suas memórias em livro sem necessitar de um ghost writer, mas com “causos” bem picantes... 

Por isso e muito mais, decidi elencar 15 motivos para que você não deixe de ler o livro de Rita Lee de maneira alguma:

1) Rita Lee relata os seus problemas com as drogas e com alcoolismo sem rodeios - Sem discurso de "madalena arrependida", a Rainha do Rock Brasileiro fala de seus antigos vícios sem arrependimento, conta um pouquinho sobre suas internações em clínicas de reabilitação, do acidente que esfacelou o seu maxilar e quase a impediu de cantar em meados dos anos 1990 e de várias de suas operações (mastectomia, hemorroida, cordas vocais, reconstrução dos ossos do rosto, retirada da vesícula) e de uma surpreendente suspeita de Mal de Parkinson;




2) Rita Lee encanta os leitores com a bela família que constituiu - O amor intenso e verdadeiro por Roberto de Carvalho, por seus três belos filhos, sua neta e a devoção incansável por seus bichos mil chega a comover o mais insensível dos leitores. Apesar de toda a inconstância da rotina da mulher que mais vendeu discos no país (ela vendeu mais discos do que Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia JUNTAS!), Rita conseguiu dar a prioridade desejada ao seu ninho;



3) Rita Lee conta alguns bastidores surpreendentes do grupo Os Mutantes, do qual foi uma das fundadoras - A arrogância e os egos estratosféricos dos irmãos Cláudio Cesar, Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, a falta de asseio da residência dOzmano da Pompeia, os ataques de D. Clarisse (a matriarca da família) não passaram incólumes pelo olhar e a memória de Rita. Dos episódios com Arnaldo e Serginho, há três fatos inesquecíveis e surpreendentes:


3a) A prima ninfomaníaca dos Mutantes - segundo Madame Lee, Claudia Dias Baptista teria literalmente "passado o rodo" em vários homens que frequentavam uma academia de artes marciais que todos frequentavam na Vila Mariana, a ponto do dono do estabelecimento ter sido obrigado a fechar as portas por conta do escândalo de um homem casado ter se envolvido com uma aluna. Hoje, Claudia é conhecida pelo público brasileiro como Monja Coen, uma liderança budista;


3b) A irreverência e a anarquia dos irmãos Mutantes assombrava mais da metade do mundo musical - De acordo com a autora, o ataque cardíaco fulminante de Vicente Celestino teria sido causado pelo choque de ver os irmãos Baptista aprontando suas estripulias com seus instrumentos musicais. O intérprete de "Coração Materno", que tinha sido convidado para participar do programa coletivo Divino Maravilhoso, tinha ficado bastante transtornado com a passagem de som dos rapazes, que tinham ligado os instrumentos no volume máximo durante uma passagem de som e fez com que Celestino começasse a passar mal dentro dos estúdios de TV. Segundo Rita, o episódio "pegou mal" para a reputação dos Irmãos Baptista;
3c) Desligando Edu - O episódio no qual Os Mutantes deveriam abrir um show de Edu Lobo em Portugal me rendeu altas gargalhadas. Depois de terem sido esnobados pelo autor de "Ponteio" de maneira bem grosseira, Arnaldo, Sérgio e Rita, em um ato de molecagem explícita, decidiram procurar pelos fios que ligavam o equipamento de som de Edu e simplesmente cortaram os fios da apresentação, inviabilizando o show. Sim, aqueles meninos poderiam ser mais terríveis do que se poderia imaginar...


4) Rita Lee e o lendário casarão da Vila Mariana - Localizada no número 670 da rua Joaquim Távora, a residência dos Jones abrigou várias histórias hilárias e algumas tristes do casal Charles Fenley Jones e Romilda Padula Jones (mais conhecida pelo apelido de Chesa), pais de Rita e de suas irmãs mais velhas - Mary Lee Jones e Virgínia Lee Jones. A presença de Balú e Carú, amigas de parentes que se tornaram, posteriormente, em babás e anjos da guarda da família, formava o harém irreverente e católico (Dona Romilda colocava a imagem de Nossa Senhora Aparecida em cima da TV durante as eliminatórias dos festivais da canção dos quais Os Mutantes participavam) que contrastava com o exército de um homem só formado pelo sargento Charles, que controlava tudo com seu olhar intimidador e com mão de ferro.


5) Rita Lee Fã - É, no mínimo, surpreendente que a mulher que mais vendeu discos no Brasil seja uma fã tão ardorosa de James Dean (sua eterna paixão!) e de David Bowie (a quem confessou ser fãzoca - Disse ela a Bowie: "I'm such an old fan of yours", no que ele respondeu, com sua elegância indefectível e seu humor inglês: "Oh yeah, I'm such and old singer"). Pelo fato de sempre ter sido tiete de seus ídolos, Rita alega sempre ter compreendido a idolatria (às vezes, desmedida e excessiva) de muitos de seus admiradores.


6) Rita Lee conta os detalhes de sua primeira vez na prisão, em 1976 - O grande público toma conhecimento dos detalhes que levaram a autora de "Ovelha Negra" para detrás das grades. Em solidariedade à mãe de um fã dos Mutantes que foi morto em uma apresentação do grupo em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, anos antes, Rita decidiu prestar depoimento esclarecendo que o rapaz foi morto por policiais que deveriam estar fazendo a segurança do local. Em represália, os "meganhas" surgiram na residência da artista, na época grávida de seu primeiro filho, "plantaram" drogas pelos cantos da casa e levaram Madame Lee em cana. Um detalhe: com todo o apoio da Ditadura Militar.

7) Rita Lee e seus queridos amigos - A artista não apenas fala da amizade com ilustres e famosos, como também nos brinda com algumas curiosidades deliciosas:
7a) Ritz & Gil - Amigos desde a época da Tropicália, Rita Lee e Gilberto Gil formaram uma parceria musical sólida e uma amizade de muitos anos. Foi ele quem fez com que a filha mais nova de Charles e Chesa largasse de vez os estudos em Comunicação na USP para assumir, de vez, a carreira artística. Padrinho do filho mais velho de Rita e Roberto de Carvalho, Gilberto Gil estava prestes a reeditar a segunda versão do show Refestança junto de sua querida pupila quando teve que declinar do convite pelo fato de ter que assumir o Ministério da Cultura do primeiro governo Lula;





7b) Ritz & Elis - A amizade entre ambas surgiu quando Rita estava presa e Elis Regina foi visitar a colega na prisão, exigindo condições decentes para o encarceramento de Rita. Apesar de César Camargo Mariano ter torcido o nariz em um primeiro momento, Elis se tornou uma intérprete constante da dupla Lee-Carvalho. Foi Madame Lee quem convenceu a geniosa intérprete de "Dois pra Lá, Dois pra Cá" a participar de Mulher 80, lendário especial de TV que reuniu as duas ao lado de Gal Costa, Maria Bethânia, Simone, Fafá de Belém, Joanna, Marina Lima, Zezé Motta e Quarteto em Cy. Uma parceria musical da Pimentinha com o casal mais ilustre da MPB (na qual Elis seria autora dos versos) estava programada, porém nunca aconteceu: a maior cantora do Brasil morreu em janeiro de 1982;





7c) Rita & Ney - Foi graças a Ney Matogrosso que os destinos de Rita Lee e Roberto de Carvalho (guitarrista que o acompanhava durante a turnê Bandido, em 1976) se cruzaram e nunca mais se separaram. Além de um grande intérprete das canções de Rita, a voz principal do grupo Secos & Molhados foi o cupido de um dos casamentos mais duradouros da música brasileira;



7d) Rita & Tim - Colegas de gravadora no início da década de 1970, Rita Lee e Tim Maia, insatisfeitos com as políticas comerciais da Philips, quebraram todo o escritório de André Midani, o Big Boss da gravadora na época. Ao sair de lá, Tim diz para a secretária, atônita: "Nada pessoal viu, lindinha!"...


8) Rita Lee desfere todo o seu rancor - Ferina e venenosa, Rita não perdoa vário desafetos, a saber:
8a) Arnaldo Baptista - o ex-marido e ex-companheiro de banda teve algumas intimidades conjugais reveladas no livro, com alfinetadas à atual esposa de Arnaldo, Lucinha Barbosa (um clone de "Rita Lee", segundo a autora das memórias) e com relatos tristes de episódios de insanidade de Lóki - o episódio do fim de Charles, o Jeep ano 1951, e do incêndio na casa alugada da Cantareira são dois exemplos bem tristes do desequilíbrio de um dos músicos mais brilhantes do Brasil;
8b) Mônica Lisboa - A ex-empresaria de Rita Lee só foi citada no livro através do apelido pejorativo de "Governanta". Ex-assistente de Guilherme Araújo, empresário de Gil, Gal e Caetano, foi acusada pela autora de "Esse Tal de Roque Enrow" de ser controladora demais, dentre outros pecados mortais;
8c) Luís Sérgio Carlini - Foi acusado por Rita de ter feito vários motins dentro da banda contra a band leader (Ritz) e de ter roubado o nome da banda "Tutti Frutti" ao registrar o título sob sua propriedade intelectual exclusiva;
8d) Okky de Souza - Casado com uma prima de Roberto de Carvalho, foi padrinho de Antônio, terceiro filho do casal Rita & Roberto. Rita Lee diz que ele passou a fazer parte da maioria absoluta de jornalistas que sempre falaram mal dela na grande imprensa;
8e) Ezequiel Neves - Rita Lee o acusa o anjo protetor de Cazuza de ter espalhado um boato de que ela estava com leucemia (o que rendeu uma música hilária que fecha o LP de 1985). A Rainha do Rock Brasileiro chegou até a ensaiar uma trégua com o "Abominável das Neves" em 1990, quando Cazuza estava em seu leito de morte e implorava por uma reconciliação. Rita confessa que chegou a doar uma quantia em dinheiro para custear um tratamento médico na época em que Zeca estava prestes a morrer, em 2010;
8f) Carlos Calado - Jornalista de respeito, biógrafo e autor de A Divina Comédia dos Mutantes (Ed. 34), Calado não escapou da escrita ferina de Rita Lee, por ter supostamente escrito "masturbações literárias";
8g) Zélia Duncan - Parceira de Rita Lee e amiga de infância até o episódio do revival dOs Mutantes, entre 2005-2007, Zélia Duncan chegou até a receber a bênção da Rainha do Rock Brasileiro para integrar a "nova" formação do grupo. Rita chegou a receber vários convites para reintegrar o grupo, porém declinou todos. Arnaldo, em tom de revanche, deu várias declarações para a imprensa dizendo que ZD era bem superior à Rita, o que deve ter agigantado o ego e a mágoa de Madame Lee. A autora das memórias não chega a dirigir nenhuma palavra de ódio contra Zélia, mas lhe destina o pior de todos os castigos: o da indiferença, mesmo depois de ZD ter gravado uma canção em homenagem à Rita;



9) Rita Lee nos oferta belas imagens de arquivo - Fotos do arquivo pessoal da família Jones ("unida e jamais vencida") se juntam às fotos de Rita ao lado de Roberto, dos filhos Beto, Juca e Tui e de momentos marcantes de uma carreira musical vitoriosa. Cá, para nós: ver Madame Lee fazendo topless na praia ou posando seminua para as câmeras, às vésperas do nascimento de dois de seus filhos, somados aos momentos de intimidade ao lado de seus bichinhos é algo belo e inusitado;


10) Rita Lee está acompanhada de Phantom, um fantasminha pra lá de camarada - Phantom, na verdade uma intervenção bem-humorada do jornalista Guilherme Samora, esclarece fatos, datas, aponta curiosidades e chega até a criticar a inaptidão de Rita em precisar momentos e datas. Um dos fatos curiosos mais interessantes apontados pelo fantasminha foi de que o show Acústico MTV continha uma versão acapella de "Dias Melhores Virão", algo que todos os fãs gostariam de ver e ouvir.



11) Rita Lee fala de suas canções mais importantes e nos conta um pouquinho sobre o processo de criação - Madame Lee fala sobre todos os discos dOs Mutantes dos quais participou, dos seus discos à frente da banda Tutti Frutti e dos discos gravados em parceria com Roberto de Carvalho até 1990. A partir daquele período, suas memórias e/ou sua vontade se tornam mais seletivas. No entanto, há três fatos que devem ser elencados:
11a) as "parcerias" entre Rita, Sérgio e Arnaldo que na verdade não aconteceram, visto que todos tinham uma espécie de acordo em colocar seus nomes em todos os créditos de composição do repertório dos álbuns dOs Mutantes;


11b) "Baila Comigo" foi composta depois de um sonho: grávida de João Lee, seu segundo filho, Rita acordou e compôs esta canção em poucos minutos, em um momento de plena inspiração;
11c) "Arrombou a Festa", uma canção esculachando a MPB da época, chegou a ser um dos maiores sucessos de Rita, em 1977. A Rainha do Rock chegou a gravar a segunda versão em seu álbum de 1979 e uma versão zombando de políticos da época em 1983. Uma quarta versão - Arrombou a Festa número pi" -  chegou a ser composta em 1993, mas foi vetada pela própria Rita Lee, pois anarquizava sem dó com os artistas da época: "Marisa traz dos montes as cantoras mais ecléticas / Quebrando o padrão das sapatas mais atléticas / Senhoras e senhores, o negócio é ser famoso / Quem nasce pra Lulu jamais chega a cão raivoso".




12) Rita Lee lembra de alguns acontecimentos incríveis ao lado de outros famosos - Madame Lee conta algumas situações inusitadas ao lado de lendas do showbiz, das quais selecionamos algumas:
12a) Hebe chegou a encontrar Rita doidona de drogas, na sarjeta em uma rua de São Paulo. A lenda da TV levou Ritz para casa e lhe deu banho e comida, além de implorar para que ela jamais passasse por tal vexame novamente;
12b) Um rapaz loiro e magricela sempre vinha trocar ideias com Rita e Os Mutantes na época do programa Divino, Maravilhoso na TV Tupi. Tempos depois, ela descobriu que o rapaz era Stuart Angel, filho de Zuzu Angel;
12c) Ulysses Guimarães chegou a ser um dos pretendentes de D. Romilda, a mãe de Rita. No entanto, a paixão dela pelo Dr. Charles deixou o velho Ulysses a ver navios...
12d) Sonia Braga trabalhava como assistente de palco do programa de Ronnie Von na década de 1960 e fez amizade com Rita, que chegou a convidá-la a integrar Os Mutantes. La Braga, ciente de que o seu amor maior era pelo teatro e pelo cinema, declinou do convite;
12e) Durante a turnê do disco Flerte Fatal, Rita escolhia uma gostosona ou uma transexual para se vestir de Miss Brasil 2000 com apenas uma capa de miss e... nada mais! Em Porto Alegre, a escolhida a abrir a capa por poucos segundos e se mostrar para o público como veio ao mundo foi ninguém mais, ninguém menos do que Adriana Calcanhotto antes da fama;
12f) Mick Jagger ficou tão encantado com a apresentação de Rita na abertura do primeiro show da turnê dos Rolling Stones pelo Brasil que liberou as passarelas laterais do gigantesco palco da Voodoo Lounge (geralmente vetadas para os números de abertura) para que Madame Lee fizesse o que ela quisesse em cena. Detalhe: durante o show de Santa Rita de Sampa, Jagger estava de câmera em punho para fotografar a nudez da "Miss Brasil 2000" daquela noite;
12g) Em um jantar de gala oferecido para Shirley MacLaine, Rita ouviu da lendária atriz hollywoodiana que elas pareciam irmãs;
12h) Indignada com o tratamento que Alice Cooper dava para as cobras que ele utilizava em seus shows, Rita adentrou o backstage e roubou as duas coitadinhas em represália ao roqueiro;
12i) Antes de sua apresentação no Hollywood Rock, em 1975, Madame Lee recebeu a visita ilustríssima de Eric Clapton e sua esposa na época, Pattie Boyd - ex-George Harrison e musa inspiradora de "Layla", de Clapton. Detalhe: foi Pattie quem ajudou Rita a costurar o figurino no corpo minutos antes do show;
12j) Em uma de suas tentativas de querer alisar os cabelos crespos, Mary Lee Jones (a  irmã mais velha de Rita) chegou a raspar os cabelos e teve que pedir uma peruca emprestada para o namorado do farmacêutico do bairro. Anos depois, o dono da peruca seria conhecido por todo o Brasil como Clodovil.



13) Rita Lee fala, sem deixar uma certa dose de ironia e deboche de lado, a respeito de sua depressão, de bipolaridade e de outros episódios tristes - Madame Lee deixou bastante claro em suas memórias de que sua depressão, dentre outros aspectos, era fruto da falta de coragem em ter que encarar as mortes em sua família - Mary, Charles, Chesa, amigos mortos pela AIDS, etc. Além disto, ela relata um estupro sofrido na primeira infância e em um aborto realizado em 1977. O primeiro episódio é tratado com serenidade, enquanto o segundo é tratado com tristeza, mas com uma honestidade impressionante;




14) Rita Lee adiciona mais um fato à histórica polêmica envolvendo o grupo Secos & Molhados e a banda norte-americana KISS - Madame Lee afirma, com plena convicção de que os americanos realmente copiaram a maquiagem do grupo que revelou a voz e o talento de Ney Matogrosso para o Brasil e o mundo. Diz Rita: "Entre outros papos, comentamos que o KISS, por meio da estilista brasileira Maria Contessa (que confeccionava o figurino deles), teria sugerido aos gringos a maquiagem inspirada na dos Secos & Molhados. A história procede, uma vez que os Secos aconteceram antes do KISS, portanto pioneiros no quesito 'pintar a cara de branco e preto' (p. 142)".



15) Rita Lee e a ajuizada decisão em sair dos holofotes, aos 65 anos de idade - A autora explica em suas memórias alguns de seus motivos para abandonar os palcos (saúde bastante debilitada, falta de disposição para as exigências do showbiz são as principais), além de deixar claro que não deseja vivenciar os clichês que marcam o fim da vida de um roqueiro: morrer de overdose ou de AIDS, se converter a uma religião radical ou ter que (re)viver por aí em revivals oportunistas, em turnês bilionárias para alimentar o bolso ou o ego não são opções do agrado de Rita Lee, que prefere seguir seus próximos dias como "Tiranassaura Regina" (pp.236-237).


Em uma linguagem bastante coloquial e "adolescente" (segundo críticos mais ferrenhos), Rita Lee deixa claro o seu ódio por jornalistas e críticos. Não se preocupa em verificar datas e nomes de determinados acontecimentos, entretanto oferece um material riquíssimo para quem um dia quiser se lançar no trabalho monumental de escrever sua biografia definitiva. Rita faz um balanço de uma vida inteira dedicada à música e aos que ela sempre amou. E sem se esquecer daqueles que a admiram de paixão.


Se eu pudesse ter a oportunidade de conversar com Rita Lee novamente (tive esta honra duas vezes, assunto para outro texto!), eu lhe faria a seguinte indagação - "Mas afinal de contas, Lady Ritz, conta uma coisa aqui no ouvido da gente (juro de pés juntos que não conto pra ninguém!): quem é a tal cantora famosa em início de carreira com quem você trombou no apartamento do Jorge Ben quando você foi pedir repertório para o primeiro disco dOs Mutantes, hein?".


Eu tenho minhas suspeitas de quem seja a tal fulana, mas ouvir a resposta de um milhão de dólares dos lábios de Santa Rita de Sampa seria de um prazer inenarrável... Espero, de coração, que ambos possamos estar por aqui para vivenciarmos isto...

DUAS LEITURAS SOBRE RITA LEE: UMA AUTOBIOGRAFIA