13 de maio de 2016

TROVA # 69


"PERDOAI-OS, PAI: ELES SÓ SABEM O QUE FAZEM"... 
COM 54 MILHÕES DE VOTOS




para Angela Rô Rô e Dilma Rousseff, duas mulheres brasileiras injustiçadas pela lei dos homens do Brasil


"Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem
Perdoai-os Pai, eles só sabem o que fazem

Eu quero uma cruz de pinho selvagem
Alguma bebida pra me dar coragem
Meu sangue ser água, matar minha sede

Que todos recusem carinho pra mim
Mas nunca se esqueçam, eu nunca padeço
Mas nunca se esqueçam de mim
Mas nunca se esqueçam de mim"

(Angela Rô Rô & Sérgio Bandeyra – 
"Perdoai-os, Pai", faixa que abre o álbum Escândalo!, lançado por Rô Rô em 1981)




Até a manhã de 12 de maio de 2016, dia em que o Brasil foi duramente atingido por um golpe democrático e saiu do Estado Democrático de Direito para o Estado de Direito Mínimo, os defensores da Direita defendiam o fato de que tudo de ruim que acontecia neste país era culpa da Presidente Dilma e do Partido dos Trabalhadores.

A partir da consagração do golpe de Estado, a justificativa para o ataque dos simpatizantes é a de que os 54 milhões de votos concedidos à Dilma legitimaram Michel Temer como o atual Presidente da República. 

Diante disso, cabe esclarecer alguns fatos:

1) Os 54 milhões de votos foram para o programa de governo defendido por Dilma Rousseff, não pelo seu então Vice-Presidente;

2) Os 54 milhões de votos foram dados para quem se expôs publicamente diante de debates, horário eleitoral obrigatório, de adversários políticos despreparados e desequilibrados, sob a chancela e o apoio de uma mídia partidária, pertencente a oligarquias interesseiras, que não se isenta da realidade dos fatos e acontecimentos;

3) Os 54 milhões de votos foram dados para quem se comprometeu na execução de programas sociais que amenizassem a desigualdade social que sempre assolou este país;

4) Os 54 milhões de votos foram dados à primeira mulher que fora designada ao cargo político mais importante da nação, dona de uma reputação moral irrepreensível, avessa a conchavos políticos típicos de integrantes do seu partido ou de integrantes da base aliada; 

5) Os 54 milhões de votos foram dados a uma chapa política composta por uma Presidente e um Vice-Presidente que deveriam ter trabalhado juntos pelos interesses comuns da sociedade brasileira, não para que ele conspirasse contra à sua companheira de governo;

6) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a alguém que tem em um político arrogante, desonesto e asqueroso como Eduardo Cunha como homem de confiança. Esperava-se do Vice-Presidente que realizasse a articulação política do governo com a oposição de forma limpa e honesta;

7) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a alguém que pertence a uma tradição política neoliberal, que exclui os pobres do chamado "progresso da nação". Dilma foi a eleita com a promessa de que iria fazer um governo para todos - não conseguiu, por ter cometido erros graves e por ter sido vítima de um golpe de estado -, algo que nunca foi prioridade para o PMDB;

8) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a um estadista que desrespeita a Educação, a Cultura, as minorias (mulheres, negros, LGBTs...), as empresas estatais e a segurança pública descaradamente ao nomear o seu Ministério;

9) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a um estadista que concede foro privilegiado a SETE investigado pela Operação Lava-Jato. Todos os petistas que foram réus em processos de corrupção foram julgados e implacavelmente condenados, ao contrário dos aliados tucanos, do DEM e de outros partidos da antiga oposição;


10) Os 54 milhões de votos NÃO foram dados a quem foi declarado "ficha-suja" e inelegível por oito anos, segundo o TSE. Tal qual foi muitíssimo bem dito pelas redes sociais, se quiséssemos um bandido na cadeira presidencial, estes votos seriam dados ao Sr. Aécio Neves, não para a Sra. Dilma Rousseff.



Vinícius Rangel Bertho da Silva
Professor, pesquisador e autor do livro "O Doce & O Amargo do Secos & Molhados: poesia, performance e política na música brasileira" (Ed. Terceira Margem, 2015).