27 de julho de 2013

TROVA # 20

700 e poucos dias sem
Amy Winehouse

         


 If you don't throw yourself into something, you'll never know what you could have had.” 
("Se você não mergulha de cabeça em algo, você jamais irá saber o que poderia ter tido.")
Amy Winehouse

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          A mídia do Reino Unido deve estar vivendo um marasmo profundo quando não há nenhum acontecimento novo e recalcitrante por parte da Família Real para expor em suas vitrines famintas. Lógico, claro, evidente: a Pop Star que mais ofereceu material quentinho e barulhento para os tabloides nos últimos tempos não dá as caras neste plano há mais de 700 dias, para desespero daqueles que adoram ver sangue impresso em páginas de jornal (ou nas searas internetescas!), ou para ser mais direto ao assunto, que se divertem em ver o circo alheio pegar fogo...
          Amy Winehouse fez tanto barulho nos tabloides, na música e na vida que deixaria até Janis Joplin (uma arruaceira de boca cheia) ruborizada. Seus escândalos, barracos e bebedeiras foram tantos que, infelizmente, a música (seu principal talento) ficou em segundo plano nos últimos anos de sua breve vida. Por isso, a saudade que sentimos é da música, do canto singular e do breve legado de uma das cantoras mais incríveis dos últimos tempos.

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          23 de Julho de 2011... Estava voltando de Curitiba para São Paulo depois de participar em um congresso de Literatura Comparada quando ligo a Internet 3G de meu telefone celular e descubro (através de uma piada infame que me recuso a citar aqui!) que o óbvio tinha acontecido: Amy Winehouse tinha morrido em sua casa em Londres. Apesar de ter consciência de que Amy não iria durar muito por aqui, a notícia me chocara bastante. Há muito tempo que a estrela não conseguia fazer um show completo sem cambalear em cena aberta, para expectativas de fãs, detratores e da imprensa.
          O mais surpreendente para mim foi que Amy Winehouse estava ensaiando um retorno triunfal aos palcos quando Dona Morte foi mais rápida e resolveu buscá-la aos 27 anos de idade. Chegou a fazer uma turnê pelo Brasil no início de 2011, mas não chegou a empolgar seu público – segundo relatos de alguns amigos que testemunharam este fato ao vivo (confesso abertamente que não quis ver a decadência inevitável da Pop Star ao vivo), a apresentação de Amy em São Paulo foi de uma pobreza lancinante, ao contrário da de Janelle Monáe, que se apresentou no mesmo palco naquela mesmíssima noite. Gravou um dueto belíssimo com Tony Bennett, porém a gravação que ambos fizeram de “Body And Soul” só veio a público quando a convidada de Bennett não estava mais entre nós. Tentativas foram feitas, mas o destino de um suicida cumpriu seu caminho...
          Amy era uma suicida com todas as letras pelo simples fato de que este mundo era pesado demais para ela. Sua voz, embebida em álcool e drogas de todos os tipos, revelava um sofrimento gigantesco – família desestruturada, os conflitos causados pela fama repentina, o casamento fracassado com Blake Fielder-Civil –, com o qual muitos ouvintes se identificaram de tal maneira, que fez com que seus discos fossem vendidos assustadoramente. Infelizmente, fama, sucesso e talento não foram suficientes para que Miss Winehouse permanecesse no mundo dos vivos

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          2006... Recém-chegado a São Paulo, depois de trocar o doce sabor das maresias cariocas pela garoa paulistana, vejo uma reportagem na qual Caetano Veloso faz elogios rasgados a uma cantora jovem, com 23 anos de idade na época. Resolvi baixar Back to Black no PC (tempo de vacas anoréxicas, nas quais não tinha dinheiro para comprar nem a versão simples, tampouco a Deluxe Edition desta pérola musical...) e fiquei espantado com o resultado que Amy Winehouse conseguiu em seu segundo CD. Ao ouvir cada música deste disco incrível, pensei que finalmente tinha conhecido a Janis Joplin da minha geração.
          Pena que a minha inocência de 25 anos de idade não me fez enxergar logo de cara que Amy Winehouse, por ser a Janis Joplin de minha geração, não iria ficar aqui por muito tempo...


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          Natal de 2011... Depois de adquirir as Deluxe Editions de Frank (2003) e Back to Black (2006), ganho de presente Lioness: The Hidden Treasures (2011), álbum póstumo de Amy. O baú de Miss Winehouse guardava pérolas improváveis para os ouvidos de fãs e curiosos, tais como: as primeiras versões de “Tears Dry On Their Own” e “Wake Up Alone”, uma versão graciosa de “The Girl From Ipanema” que ficou de fora da seleção oficial de seu primeiro álbum e, surpreendentemente, um registro desesperado de “A Song For You”, de Leon Russell – será que ela previa o próprio futuro ao cantar versos como “I’ve been so many places in my life and time / “I’ve sung a lot of songs, I’ve made some bad rhyme (‘Estive em tantos lugares no decorrer da vida / Cantei muitas canções, fiz algumas rimas ruins’)” em pleno dissabor perante a vida que devia estar chegando ao fim?!
Sim, havia coisas que valiam a pena dentro daquele baú. Porém, nada (repetindo: nada!) que tivesse a consistência de um aguardado terceiro álbum de inéditas de Amy Winehouse. Auxiliado pelos produtores Mark Ronson e Salaam Remi, Mitch Winehouse (pai de Amy) raspou as sobras do tacho dos arquivos e fez o inventário musical da filha caçula, com direito a todo o oportunismo que a ocasião promete.


  *
Maio de 2012... Patti Smith, uma de minhas musas e referências principais de Arte nos dias de hoje, lança novo disco. Banga, retorno de Mrs. Smith ao disco depois de oito anos sem material autoral inédito, traz “This Is The Girl”, canção escrita em homenagem a Amy Winehouse. Os versos de Patti, repletos de emoção, nos trazem a memória de alguém que se foi cedo demais... Depois de 700 e poucos dias sem a música de Amy, um relato da saudade amargada por cada um que aprecia a boa música de um talento único...
           




THIS IS THE GIRL
(Patti Smith & Tony Shanahan)

This is the Girl
For whom all tears fall
This is the Girl
Who was having a ball
Just a dark smear masking the eyes
Spirited away hurrying inside

This is the Girl
That crossed the bind
This is the song about smouthering vine
Twisted as laurels to crown her head
Raised as a reef upon her bed

This is the Girl
This the blind that turned in wine
This is the wine of the house it is said
This is the Girl who Yearned to be heard
So Much for cradling a smouldering bird

This is the Girl x2

This is the Girl
For whom all tears fall
This is the Girl
Who was having a ball
This is the Girl
For whom all tears have shead
This is the Wine of the House it is said

This the blind that turned in wine
This is the wine of the house it is said
This is the Girl who Yearned to be heard
So Much for cradling a smouldering bird

This is the Girlx x3



WINEHOUSE'S TOP 5:


1. Rehab



2. You Know I'm No Good


3. Help Yourself


4. Wake Up Alone (Original Version)


5. Tears Dry On Their Own


e uma participação inesquecível em um show dos Rolling Stones!




26 de julho de 2013

TROVA # 19

EU QUERIA SER MICK JAGGER!



The past is a great place and I don't want to erase it or to regret it, but I don't want to be its prisoner either.”
O passado é um lugar bacana e eu não quero apaga-lo ou me arrepender dele, mas não quero ser seu prisioneiro de forma alguma.
Mick Jagger

          Sim, eu confesso: se eu pudesse ser uma Estrela do Rock ‘n’ Roll para ser durante um dia, não pensaria duas vezes em dizer que queria ser Mick Jagger! Por quê? Ora essa, resposta facílima: porque Sir Mick é embebido em juventude (seguindo os preceitos do bom e não tão velho estatuto do Rock), é energético dentro e fora dos palcos, é dramático e sarcástico ao mesmo tempo, é o mais jurássico das estrelas roqueiras sem ser empoeirado, já dormiu com Deus e o mundo, etc. etc. etc... Ou seja, ele É sexo, drogas e Rock 'n' Roll: apenas isso!
          Muitos dos que me conhecem sabem que Mick Jagger é o meu stone preferido. Sonhava em ter aqueles cabelos lisos e ligeiramente longos, tais quais ele tinha na época de Exile On Main Street (1972), evidenciando aquela boa e velha androginia no final dos anos 1990 (meus heróis não morreram de overdose, mas são os mesmos da geração dos meus pais!) ou me mover pelos palcos e pela vida com aquele rebolado... Sim, eu confesso, eu confesso...
          No entanto, a partir de 26 de Julho de 2013, Michael Philip Jagger conseguiu mais um motivo para que eu o inveje ainda mais: chegou aos 70 anos de idade com uma energia de fazer inveja a muitos rapazes da minha faixa etária. Quem estava no Hyde Park, em Londres, no início de Julho de 2013, viu e ouviu Mick à frente de dois concertos históricos da banda de Rock mais importante em atividade. Os sortudos que foram aos shows dos Rolling Stones na turnê que varreu os EUA durante o primeiro semestre de 2013, também viram que a energia de Sir Mick parece inesgotável! A pergunta que todos, perplexos, fazemos é: como ele consegue?
          Mick é filho de um Professor de Educação Física. Sempre fez exercícios, foi competitivo e sempre se esforçou para ser o melhor naquilo com o se envolve. Além disso (dizem as lendas), não foi tão junkie como Richards, Jones ou Wood. Sempre se fez de “louco”, mas foi o mais sábio de todos os roqueiros de sua geração e não se deixou sucumbir completamente pelos alucinógenos. Sua performance esfuziante nos palcos não era movida a mera cocaína ou demais estimulantes, é fruto de um físico mantido a exercícios constantes, para inveja e desespero de quem não consegue tal determinação e/ou biótipo. Além disso, sempre teve olhos de lince para os negócios - daí explica-se o fato dos Rolling Stones serem não apenas um baluarte do Rock, como também o fato de serem uma marca rentável e que move milhões e milhões de verdinhas... E disso, tio Mick gosta tanto quanto a cópia da costela de Adão! 
          Tem outro elemento que diferencia Jagger de seus companheiros de geração: este rapaz de sete décadas sempre foi movido a uma insatisfação constante – não me refiro apenas a “Satisfaction”, o major hit dos Rolling Stones –, com o amor (dois casamentos desfeitos, sete filhos), com a política (não é um liberal convicto, mas é um crítico feroz dos conservadores), com os costumes (faz questão de não se enquadrar com os limites impostos pela masculinidade tradicional), com o próprio Rock (é dono de uma extensa discografia - tanto a frente dos Stones, quanto em carreira solo). Este aspecto faz com que o frontman da banda mais festejada do Rock ‘n’ Roll se destaque em relação a outros rivais do mundo da música como Bono Vox, Steven Tyler, Robert Plant e tantos outros...
          Por estas e tantas outras, um brinde a Mick Jagger! Que o Mestre possa nos surpreender por outros 70 anos ou mais!
          Cheers from Brazil, Sir Mick!

Confira os links abaixo sobre os 70 anos de Mick Jagger: